sábado, 3 de novembro de 2018

Lembranças

Eu me lembro, tinha 12 anos, risquei o símbolo de anarquia no meu tênis.
Minhas tias diziam, é só uma fase, vai passar. 
Eu me lembro, com 14 anos, apanhei no shopping por causa de um pentagrama.
Minhas tias diziam, é só uma fase, vai passar. 
Então fui silenciada pela família, os símbolos, profanos, proibidos. 
Eu me lembro, já com 18. Comecei a falar de liberdade, de feminismo.
Minhas tias diziam, é só uma fase... Mas essa garota precisa se enquadrar. 
Eu me lembro, 22, me juntei ao partido. 
Minhas tias diziam, já não serve, acho que está quebrada, mas quando tiver "mais responsabilidade", vai passar.
Eu me lembro, 25. Helena nasceu.
Então disseram, agora passou. 
Eu estou, 28.
E lhes digo: "NÃO PASSARÃO" 

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Relatos Pt 1.


Depois de muito pensar sobre o que escrever, me veio a mente que não haveria forma melhor de iniciar este blog, ou melhor, este documento, do que com o relato sobre o que me trouxe até aqui.
O meu relato de parto, não poderia ser somente isso, pois todo parto se inicia num ponto, e este é a descoberta da gravidez, como isso foi pra mim, relatar tudo isso desde o início é de suma importância pra entender  a causa de ser o meu renascimento, e a maior (embora terceira) experiência de quase morte que tive.

Muitos podem achar estranho eu ter essa relação tão forte com o pós parto, onde eu achei que não ia conseguir passar por aquilo, mas foi ali, naquele momento de desespero e dor, que eu renasci, e assim como minha filha, recém parida, comecei a digerir o mundo e toda a realidade a minha volta de outra maneira, comecei a ver a vida através dos olhos dela, como se tudo fosse novo, encantado, dolorosamente delicioso, e ali também comecei a dar meus primeiros passos, nesse mundo onde eu agora era responsável por algo tão frágil e maravilhoso.

Início de setembro de 2014:

Eu tinha um companheiro, vamos chamá-lo de Walter (No decorrer do tempo talvez se faça necessária a preservação de identidade) e nós havíamos passado por conturbações havia certo tempo, após um ano e pouco de relacionamento, nos separamos (talvez no decorrer dos textos me sinta a vontade para relatar isso também, já que foi a experiência mais traumática da minha vida) em dezembro de 2013, saí da casa onde morávamos juntos, e retornei pra casa da minha mãe.
Ali, por volta de julho de 2014, voltamos a nos relacionar, e no meu aniversário de 24 anos, em 17 de agosto, começou toda a minha nova história, foi o dia que engravidei.

Eu acabara de descobrir que quatro amigas muito próximas estavam grávidas, uma delas, em total choque com a descoberta, queria uma forma de descontinuar. Estava assustada junto com elas, sentindo empaticamente toda aquela pressão social de ser jovem, sem uma vida considerada estável e ser futura mãe, e acreditem, o mundo é muito cruel com as mulheres, muitas de nós sabemos disso a fundo, infelizmente.

Me sentia estranha, tinha sonhos reais, eu não sabia diferenciar se estava dormindo ou se aquilo tudo estava realmente acontecendo. Sentia os seios cada dia mais doloridos, muito sono, e nenhuma vontade de comer, acordava todos os dias às 5:30 pontualmente, e não conseguia mais dormir. Estava irritada, sensível, e não entendia nada daquilo. Foi quando uma colega de trabalho (uma das quatro amigas), me disse que eu deveria estar grávida. Fiquei em choque, minha menstruação não estava atrasada, mas eu sentia que ela dizia a verdade. 

Saí do trabalho (era uma sexta feira e eu estaria de folga no dia seguinte) totalmente transtornada, e comecei a ligar pro  Walter, mas ele não me atendia. Depois de mais ou menos 50 ligações ignoradas, resolvi passar na farmácia. Lá obviamente comprei um teste de gravidez, entrei no banheiro do supermercado, e não conseguia, eu estava com medo, sozinha...
Então resolvi passar na casa de um amigo, Jurah, pois eu sabia que com ele eu teria o apoio necessário.

Assim que ele abriu a porta pra me receber, já percebeu que tinha alguma coisa errada, entramos, e eu sem dizer nada, abri minha mochila e tirei o teste, nesse momento eu senti que a cara de espanto dele deveria ser igual a minha, e ele também sem dizer nada, foi até a cozinha, colocou shots de vodka ruim gelada e tomamos, tomamos uns 7, até eu conseguir tomar coragem, já embriagada eu fui ao banheiro, e fiz o teste. Sem coragem de olhar o resultado sai e pedi que ele olhasse.
Ele voltou, se sentou ao meu lado e me abraçou, e disse... disse o que eu tinha mais medo, mesmo sem saber, era positivo...
Novamente me desesperei, entre choro, embriaguez e falas desconexas, liguei pro Walter  de novo, e de novo fui ignorada, enquanto ele me dizia que era pra eu deixar pra lá, que eu não estava bem, que era melhor dormir lá mesmo e depois resolver isso, eu, teimosa por natureza, não dei ouvidos. Liguei então pra um amigo em comum (William, meu atual companheiro) que atendeu e disse estar com ele, ao passar o telefone, Walter atendeu extremamente ríspido, e me perguntou “O que que c quer?”, eu disse que precisava falar com ele, ele disse que não podia, estava com os amigos, aquele era o “dia dele”, e mandou eu falar por telefone mesmo. Eu mal consegui dizer, bem baixo, com vergonha de dizer aquilo até para mim mesma “ESTOU GRÁVIDA” e ele respondeu somente um “ok, quando eu terminar aqui eu vou aí te encontrar”.

Acredito que eu não preciso explicar o que eu senti, na verdade nem que eu quisesse eu poderia, minha tortura começou então, deveria ser por volta de vinte horas, e eu aguardei... aguardei muito com meu amigo segurando minha barra, minha mão. Foram horas difíceis, não sei dizer quantas, até que eu ouvi aquele assobio no portão, aquele assobio que eu conhecia tão bem, era ele. E ele pediu pro Jurah abrir pra ele, sozinho. Eu não entendi, mas fiquei lá tremendo, estava no terraço da casa, enquanto o Jurah abria a porta, olhei lá para baixo e vi que o Walter ainda estava acompanhado dos amigos, o William então subiu para conversar comigo, e ali tivemos, acredito que, em anos, a nossa primeira conversa realmente séria, sobre o que estava acontecendo, debruçados no parapeito do terraço, ouvi Walter dizendo lá em baixo “Este filho não é meu”. 

Ali eu soube, o que no fundo mesmo já sabia, eu estaria sozinha. Tudo o que acontecesse a partir dali, era comigo. Eu não poderia contar com ele pra nada. Eu estava certa...
 
O Jurah mesmo me mandou essa mensagem outro dia, que expressa tudo o que aconteceu naquele momento:

“é engraçado, pq eu sempre conto histórias pra galera, e todo mundo acha que eu sou garganta.. ai tem uma que uma amiga minha colou em casa, desesperada pq achava que tava grávida, e eu fui comprar o teste 2 vezes... e tomamos shots de vodka pura, pra mim tomar coragem de ver o resultado... e quando o namorado dela chegou, sai pra rua e conversei muito com ele antes dele chegar nela, pq ele tava muito estranho.....e que apesar de ter sido escroto, eu tinha bagagem por estudar psicologia, e falei "vc vai abortar né..?".. e logo na sequencia, encostei minha cabeça na barriga dela e falei "oi meu amor, tudo bem?"..... Minha amiga falou "ahh para..." chorando.. e eu tive certeza, que apesar dela me achar um escroto idiota, ela jamais iria abortar......... ai depois tem uma história que a filha dessa ai, falou a primeira palavra dela comigo... PEIXE. E ainda tem mais, eu enchi o saco dela pra escolher HELENA, pq Elena de Tróia foi rainha... e  o sobrenome dela é Reis....... eu conto, ninguém acredita.. ahhaha ninguém acredita na sminhas merdas todas.”


Aqui encerro a primeira parte do meu relato, ainda hoje sinto que as emoções afloram, e isso torna impossível continuar...

Jadiss. 

sábado, 20 de outubro de 2018

Sinto (EU), logo sou.

Em detrimento da realidade presente, me senti de novo na obrigação de escrever.
Novas pessoas que (ainda bem) entraram pro meu convívio me fizeram perceber que talvez não fosse impossível.

Tenho sentido um enorme bloqueio mental, mas a todos é conhecido que a escrita se exercita como um músculo, quanto mais se treina, mais fácil fica.

O hábito da leitura há certo tempo eu consegui retomar, pras mulheres que passaram por um puerpério difícil e conturbado, conseguem imaginar a causa, mas pra quem não, explico: Depois da maternidade, perdemos a identidade por certo tempo, me arrisco a dizer que perdemos até o tempo.
Então renascemos, como fênix sem correr o risco de ser clichê. Todo aquele turbilhão de hormônios, adaptação, negação, aprendizado, todo o desespero se acalma. A pressão ameniza. Conseguimos fazer com que a maternidade se torne orgânica (mas obviamente não em todos os sentidos, seria impossível e passível da arrogância de pensar que a maternidade seria então instinto, ou pior, perfeita.).
Parte deste renascimento trouxe consigo obviamente, mudanças substanciais no meu modo de ser, pensar, agir. Por isso então eu resolvi (re)começar a escrever, porém em outro blog.
Encontrei o antigo hoje, de bobeira, e nele vi muitas coisas, que me ajudaram a entender como e onde tudo isso começou, quando comecei a ficar depressiva, quais eram meus pontos de vista há 7/6 anos atrás, fico feliz em saber que ainda concordo com a maioria, existem algumas ressalvas políticas, sim, mas em essência, sinto que não perdi tanto de mim quanto imaginei. 


Então aqui estou, com uma vontadezinha, como borboletas no estômago, de colocar tudo pra fora. 

Diminuir esta ansiedade de uma maneira que consiga entender o que me causa ela. 

Me encontro cuidadosamente escolhendo palavras, colocando vírgulas, e pensando em pontos. Isso me faz sentir viva, altiva, e com todo o controle novamente em minhas mãos. 


Meu muito obrigado aos 1000 e poucos que se identificaram com meu antigo blog, e meu "Seja bem vindo" a este novo recomeço dos meus devaneios. 


Ótima tarde a todos! 



Jadiss.