Depois de muito pensar sobre o que escrever, me veio
a mente que não haveria forma melhor de iniciar este blog, ou melhor, este
documento, do que com o relato sobre o que me trouxe até aqui.
O meu relato de parto, não poderia ser somente isso,
pois todo parto se inicia num ponto, e este é a descoberta da gravidez, como
isso foi pra mim, relatar tudo isso desde o início é de suma importância pra
entender a causa de ser o meu renascimento, e a maior (embora terceira) experiência de quase morte que tive.
Muitos podem achar estranho eu ter essa relação tão
forte com o pós parto, onde eu achei que não ia conseguir passar por aquilo,
mas foi ali, naquele momento de desespero e dor, que eu renasci, e assim como
minha filha, recém parida, comecei a digerir o mundo e toda a realidade a minha
volta de outra maneira, comecei a ver a vida através dos olhos dela, como se
tudo fosse novo, encantado, dolorosamente delicioso, e ali também comecei a dar
meus primeiros passos, nesse mundo onde eu agora era responsável por algo tão
frágil e maravilhoso.
Início de setembro de 2014:
Eu
tinha um companheiro, vamos chamá-lo de Walter (No decorrer do tempo talvez se
faça necessária a preservação de identidade) e nós havíamos passado por conturbações
havia certo tempo, após um ano e pouco de relacionamento, nos separamos (talvez
no decorrer dos textos me sinta a vontade para relatar isso também, já que foi
a experiência mais traumática da minha vida) em dezembro de 2013, saí da casa
onde morávamos juntos, e retornei pra casa da minha mãe.
Ali, por volta de julho de 2014, voltamos a nos
relacionar, e no meu aniversário de 24 anos, em 17 de agosto, começou toda a
minha nova história, foi o dia que engravidei.
Eu acabara de descobrir que quatro amigas muito
próximas estavam grávidas, uma delas, em total choque com a descoberta, queria
uma forma de descontinuar. Estava assustada junto com elas, sentindo empaticamente
toda aquela pressão social de ser jovem, sem uma vida considerada estável e ser
futura mãe, e acreditem, o mundo é muito cruel com as mulheres, muitas de nós
sabemos disso a fundo, infelizmente.
Me sentia estranha, tinha sonhos reais, eu não sabia diferenciar se estava
dormindo ou se aquilo tudo estava realmente acontecendo. Sentia os seios cada dia
mais doloridos, muito sono, e nenhuma vontade de comer, acordava todos os dias
às 5:30 pontualmente, e não conseguia mais dormir. Estava irritada, sensível, e
não entendia nada daquilo. Foi quando uma colega de trabalho (uma das quatro
amigas), me disse que eu deveria estar grávida. Fiquei em choque, minha
menstruação não estava atrasada, mas eu sentia que ela dizia a verdade.
Saí do trabalho (era uma sexta feira e eu estaria de folga no dia seguinte)
totalmente transtornada, e comecei a ligar pro Walter, mas ele não me atendia. Depois de mais
ou menos 50 ligações ignoradas, resolvi passar na farmácia. Lá obviamente
comprei um teste de gravidez, entrei no banheiro do supermercado, e não
conseguia, eu estava com medo, sozinha...
Então resolvi passar na casa de um amigo, Jurah, pois eu sabia que com ele eu
teria o apoio necessário.
Assim que ele abriu a porta pra me receber, já percebeu que tinha alguma coisa
errada, entramos, e eu sem dizer nada, abri minha mochila e tirei o teste,
nesse momento eu senti que a cara de espanto dele deveria ser igual a minha, e
ele também sem dizer nada, foi até a cozinha, colocou shots de vodka ruim gelada e tomamos, tomamos uns 7, até eu
conseguir tomar coragem, já embriagada eu fui ao banheiro, e fiz o teste. Sem
coragem de olhar o resultado sai e pedi que ele olhasse.
Ele voltou, se sentou ao meu lado e me abraçou, e disse... disse o que eu tinha
mais medo, mesmo sem saber, era positivo...
Novamente me desesperei, entre choro, embriaguez e
falas desconexas, liguei pro Walter de
novo, e de novo fui ignorada, enquanto ele me dizia que era pra eu deixar pra
lá, que eu não estava bem, que era melhor dormir lá mesmo e depois resolver isso,
eu, teimosa por natureza, não dei ouvidos. Liguei então pra um amigo em comum (William,
meu atual companheiro) que atendeu e disse estar com ele, ao passar o telefone,
Walter atendeu extremamente ríspido, e me perguntou “O que que c quer?”, eu
disse que precisava falar com ele, ele disse que não podia, estava com os
amigos, aquele era o “dia dele”, e mandou eu falar por telefone mesmo. Eu mal
consegui dizer, bem baixo, com vergonha de dizer aquilo até para mim mesma “ESTOU
GRÁVIDA” e ele respondeu somente um “ok, quando eu terminar aqui eu vou aí te
encontrar”.
Acredito que eu não preciso explicar o que eu senti, na verdade nem que eu
quisesse eu poderia, minha tortura começou então, deveria ser por volta de
vinte horas, e eu aguardei... aguardei muito com meu amigo segurando minha
barra, minha mão. Foram horas difíceis, não sei dizer quantas, até que eu ouvi
aquele assobio no portão, aquele assobio que eu conhecia tão bem, era ele. E
ele pediu pro Jurah abrir pra ele, sozinho. Eu não entendi, mas fiquei lá
tremendo, estava no terraço da casa, enquanto o Jurah abria a porta, olhei lá
para baixo e vi que o Walter ainda estava acompanhado dos amigos, o William
então subiu para conversar comigo, e ali tivemos, acredito que, em anos, a
nossa primeira conversa realmente séria, sobre o que estava acontecendo,
debruçados no parapeito do terraço, ouvi Walter dizendo lá em baixo “Este filho
não é meu”.
Ali eu soube, o que no fundo mesmo já sabia, eu estaria sozinha. Tudo o que
acontecesse a partir dali, era comigo. Eu não poderia contar com ele pra nada.
Eu estava certa...
O Jurah mesmo me mandou essa mensagem outro dia, que expressa tudo o que aconteceu
naquele momento:
“é engraçado, pq eu sempre conto histórias pra galera, e todo
mundo acha que eu sou garganta.. ai tem uma que uma amiga minha colou em casa,
desesperada pq achava que tava grávida, e eu fui comprar o teste 2 vezes... e
tomamos shots de vodka pura, pra mim tomar coragem de ver o resultado... e
quando o namorado dela chegou, sai pra rua e conversei muito com ele antes dele
chegar nela, pq ele tava muito estranho.....e que apesar de ter sido escroto,
eu tinha bagagem por estudar psicologia, e falei "vc vai abortar
né..?".. e logo na sequencia, encostei minha cabeça na barriga dela e
falei "oi meu amor, tudo bem?"..... Minha amiga falou "ahh
para..." chorando.. e eu tive certeza, que apesar dela me achar um escroto
idiota, ela jamais iria abortar......... ai depois tem uma história que a filha
dessa ai, falou a primeira palavra dela comigo... PEIXE. E ainda tem mais, eu
enchi o saco dela pra escolher HELENA, pq Elena de Tróia foi rainha... e o sobrenome dela é Reis....... eu conto,
ninguém acredita.. ahhaha ninguém acredita na sminhas merdas todas.”
Aqui encerro a primeira parte do meu relato, ainda hoje sinto que as emoções afloram, e isso torna impossível continuar...
Jadiss.